No passado domingo, 26 de Março, tivemos mais uma reunião do grupo, desta vez orientada por um amigo do Zé e da Isabel Rodrigues, o António (aqueles que já estão no grupo há mais tempo devem lembrar-se dele, é um senhor espanhol que orientou uma das reuniões do tempo do Padre Luís, sobre a desculpa e o perdão). Não é para fazer inveja a quem não pôde estar presente, mas foi muito interessante e divertida, nem sabem o que perderam.
Como sabem este ano estamos a trabalhar o Pai Nosso, desta vez foi a prece "Perdoai-nos as nossas ofenças assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".
Por coincidência (daquelas que nós estamos fartos de saber que não existem...) o orador convidado, que costuma receber por e-mail o evangelho de cada dia (quem quiser pode inscrever-se gratuitamente em http://www.evangelhoquotidiano.org/), apercebeu-se que num dos dias da semana passada o evangelho falava exactamente sobre este tema. A passagem era a seguinte:
(Lc 17,3-4) - 21Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» 22*Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
23Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24 * Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. 26O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: 'Concede-me um prazo e tudo te pagarei.' 27Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: 'Paga o que me deves!' 29O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: 'Concede-me um prazo que eu te pagarei.' 30Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. 31Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. 32 O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: 'Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; 33não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?' 34E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia.
35*Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.»
Começamos a reunião tentando distinguir dois conceitos muito próximos, mas distintos: desculpar e perdoar.
Á partida parecem semelhantes, geralmente usamos indistintamente as duas palavras, com o mesmo significado, mas elas são radicalemte diferentes.
Será que não existe uma grande diferença entre algo de errado que tenhamos feito conscientemente, ou algo de errado que fizemos sem querer? Será que a reconciliação deverá ser feita do mesmo modo?
Sendo assim, pedir desculpas é pedir que retirem as culpas que nos foram atribuidas erradamente, por qualquer coisa que fizemos sem intenção; pedir perdão mostra arrependimento por algo que tenhamos feito com intenção.
A reconciliação não pode ser verdadeira quando pedimos perdão, arranjando desculpas.
Pedir desculpas é declarar-se inocente, quem pede desculpas pede a justiça de lhe ser retirada a culpa erradamente atribuida, não poderá ser castigado e depois de desculpado esse assunto é para esquecer.
Pedir perdão é assumir a culpa, quem pede perdão sabe que merece ser castigado pelo que fez de errado, sabe que o outro não pode esquecer o que se passou, pede-lhe mesmo que o castigue, mas pede ao outro que, se puder, lhe diminua a pena.
Na nossa relação com Deus, sempre que somos culpado, devemos pedir perdão, mas sem usar desculpas para tentar minimizar as nossas acções. evemos assumir perante Deus aquilo que fizemos de errado, mas sem usar desculpas.
Quando nos confessamos, um dos pressupostos para que sejamos perdoados é o propósito de emenda. O António propôs-nos um propósito de emenda pela positiva. Tentar não voltar a pecar parece muito pouco... Usando como exemplo o caso da definição de saúde: não podemos definir saúde apenas como ausência de doença ou enfermidade mas, segundo a Organização Mundial de Saúde, como um completo estado de bem-estar físico, psiquico, emocional e social.
Sendo assim, pedir perdão é pedir tempo, não só para não voltar a pecarm nas para tentar fazer coisas positivas para "remediar" o mal feito. Devemos "afogar um mal em abundância de bem". Esta atitude estimula o crescimento.
Mas ao rezarmos o Pai Nosso nós não pedimos apenas perdão pelas nossas ofenças, pedimos para ser perdoados à semelhança daquilo que nós perdoamos a quem nos ofende, e isso torna as coisas mais complicadas. A propósito desta questão a Inês Rodrigues colocou uma dúvida muito interessante: Quando alguém nos magoa repetidamente, o evangelho diz-nos que devemos perdoar sempre, mas será que é errado afastarmo-nos dessa pessoa para evitar que nos volte a magoar? Segundo esta "nova" definição de perdão, perdoar é dar espaço ao outro. Por vezes podemos ter de nos afastar para poder dar esse espaço, e até porque nem sempre é possivel perdoar no momento.
Como aconteceu no final de todas as reuniões, O Zé Rodrigues lançou um desafio: não terminar o dia sem inspeccionar a consciência se temos algum sentimento de rancor para com alguém, e se tivermos aproveitar esse momento para perdoar. A este desafio a Inês acrescentou mais um objectivo, podemos aproveitar esse momento para pensar naquilo que podemos fazer de bom para que possamos ser perdoados por quem possamos ter ofendido ao longo do dia. A este desafio o Zé Rodrigues resolveu chamar
"Passar ou chumbar no exame diário".